Alma humana é um mistério que se desdobra em cada um de nós, e “Branca de Neve” é mais do que um conto infantil – é um espelho dessa essência profunda. Entender o simbolismo escondido nessas histórias é abrir uma janela para o coração dos pequenos. Essas narrativas, como nos ensinam a filósofa Lúcia Helena Galvão, da Nova Acrópole, vão além da superfície: elas mexem com o imaginário, despertam emoções e plantam sentimentos espirituais que guiam as crianças desde cedo. Por trás da madrasta, da maçã e dos anões, há uma jornada que reflete nossa própria busca interior.
Neste artigo, vamos desvendar o que Branca de Neve revela sobre a alma humana, com um olhar especial para o quanto essas lições silenciosas tocam os mais jovens. É um convite para que você, que cuida de uma criança, veja a riqueza desses contos de fadas e os use como ferramentas para nutrir a espiritualidade e o mundo emocional dos pequenos. Prepare-se para mergulhar nessa história e descobrir como ela fala de todos nós – especialmente das crianças que você guia.
A Origem de um Conto Atemporal
Branca de Neve nasceu nas vozes do povo, muito antes de ganhar as páginas dos Irmãos Grimm em 1812. Como Lúcia Helena Galvão nos conta, esse conto vem de séculos de tradição oral no folclore alemão, talvez até com ecos de histórias mais antigas, como a de um escritor italiano do século XVI. Os Grimm o resgataram como uma joia bruta, polindo-o para crianças e adultos, mas mantendo seu coração simbólico. Depois, em 1937, Walt Disney o levou às telas, ajustando detalhes – como o beijo do príncipe – para amplificar seu impacto, algo que Galvão destaca como intencional, dado o interesse dele por símbolos.

Alguns acreditam que Maria Sofia von Erthal, uma jovem do século XVIII, pode ter inspirado essa história. Nascida em Lohr, na Alemanha, ela era filha de Philipp Christoph von Erthal, uma nobre que ficou viúvo e se casou novamente com uma mulher conhecida por favorecer seus próprios filhos, deixando Maria Sofia sob a sombra de uma madrasta autoritária. Lohr era famoso por sua produção de espelhos, e o pai de Maria comandava uma fábrica – um dos espelhos, exposto hoje num museu local, carrega a frase “amor próprio” em francês, evocando o espelho da madrasta do conto. Perto dali, uma floresta sombria, cheia de perigos como ladrões e feras, cercava a região, e dizem que Maria fugiu por sete colinas até uma área de mineração.
Essa mina, hoje abandonada, era acessada cruzando essas sete colinas e abrigava trabalhadores que, protegidos por capas contra poeira e pedras, lembravam os sete anões. Crianças e pessoas de baixa estatura realmente trabalhavam ali, o que reforçava a conexão. Mas nem tudo na vida de Maria Sofia reflete o conto: não há registros de uma maçã envenenada, um caixão de vidro (apesar do vidro ser ofício de seu pai) ou um príncipe salvador. Ainda assim, sua história, real ou lendária, carrega ecos do simbolismo que atravessa gerações, tocando a alma humana e encantando as crianças com sua magia.
O Castelo e a Madrasta: A Personalidade em Conflito
No início de Branca de Neve, há um castelo – um símbolo poderoso que, segundo Lúcia Helena Galvão, representa nossa personalidade, a casa que habitamos no mundo. É feito de camadas: o corpo, as emoções, os pensamentos básicos, tudo comandado por uma consciência. A madrasta, com seu espelho, é essa consciência superficial, fascinada por vaidades e pelo reflexo externo – o que os outros pensam, o que ela aparenta ser. Ela é o lado de nós que ignora o chamado mais profundo, preferindo o conforto das aparências.

Para as crianças, a madrasta é mais que uma vilã: ela mostra como às vezes nos perdemos em desejos ou medos bobos, esquecendo o que realmente importa. Quando a mãe de Branca de Neve morre e a madrasta assume, é como se a personalidade se desconectasse da alma, um conflito que todos vivemos. Pais e educadores podem usar essa imagem para ensinar que nem tudo que brilha por fora reflete o que somos dentro.
Branca de Neve: A Voz da Alma Pura
Branca de Neve surge como o oposto da madrasta – pura, serena, quase intocada pelo caos humano. Lúcia Helena Galvão a vê como a alma, essa luz interior que tenta nos guiar para algo maior. Quando a mãe deseja uma filha “branca como a neve, vermelha como o sangue e negra como o ébano”, ela evoca as três etapas da alquimia medieval: o negro do confronto com nossos defeitos, o branco da purificação e o vermelho da união com o divino. Branca de Neve é essa promessa de transformação.
Nas crianças, ela é um reflexo da inocência que sente o mundo com o coração aberto. Mesmo fugindo para a floresta – o inconsciente –, ela organiza a casa dos anões, mostrando que a alma nunca desiste de harmonizar nossa vida. Para os pequenos, essa pureza ressoa em seu imaginário, ensinando que há uma força boa dentro deles, pronta para brilhar mesmo nos dias difíceis.
A Maçã e os Anões: Símbolos do Coração e da Harmonia
A maçã envenenada é um dos símbolos mais fortes do conto. Para Galvão, ela representa o coração humano, que a madrasta contamina com egoísmo, desejos e paixões descontroladas. Quando Branca de Neve morde a maçã e adormece, é como se a alma fosse silenciada por um coração preso ao superficial. Nos Grimm, há outras tentativas (a fita e o pente), mas Disney foca na maçã, tornando-a o ápice dessa luta interna – um alerta sobre o que nos afasta de nós mesmos.
Já os sete anões, vivendo na floresta, são os sete aspectos da nossa natureza, como Galvão sugere – corpo, energia, emoções e mais. Branca de Neve os organiza, trazendo harmonia onde havia caos. Para as crianças, os anões são amigos divertidos, mas também mostram que suas emoções e impulsos podem trabalhar juntos, guiados por algo maior. É uma lição sutil que pais podem reforçar: até o que parece bagunçado tem um lugar na alma.
O Príncipe e o Despertar: A União com o Divino
O príncipe chega como um salvador, mas seu papel vai além do romance. Lúcia Helena Galvão o interpreta como a consciência enobrecida, que, após sofrer e amadurecer, busca a alma adormecida. Nos Grimm, o caixão sacode e a maçã sai da garganta; em Disney, é o beijo – ambos simbolizam o despertar. É o momento em que reconhecemos nossa essência e a trazemos de volta para comandar o castelo da personalidade.
Para as crianças, o príncipe é a esperança de que tudo se resolve. Ele ensina que, mesmo quando as emoções nos derrubam, há um caminho de volta à luz. Pais e educadores podem usar isso para mostrar que os desafios são parte do crescimento, e que a espiritualidade é o que nos levanta, unindo quem somos ao que podemos ser.
Nossa História em Branca de Neve
Branca de Neve” não é só um conto – é a nossa história, um reflexo da jornada da alma humana, como tão bem aponta Lúcia Helena Galvão. Da madrasta ao príncipe, cada símbolo nos lembra que a vida é um caminho de purificação e despertar. Para as crianças, essas imagens dançam no imaginário, moldando emoções e sussurrando verdades espirituais que elas carregarão para sempre.
Que tal olhar para “Branca de Neve” com novos olhos e compartilhá-la com uma criança hoje? Veja além da superfície, como Galvão nos inspira, e perceba o quanto esses contos são profundos.
Este artigo foi inspirado nas profundas reflexões de Lúcia Helena Galvão no vídeo do YouTube Branca de Neve e a Alma Humana: Elementos Simbólicos no Conto, da Nova Acrópole.
Conte nos comentários o que essa jornada despertou em você – ou nos pequenos que você acompanha! E, para mergulhar ainda mais no universo dos contos, confira nosso artigo O Poder Oculto dos Contos de Fadas no Crescimento Espiritual Infantil aqui no blog! 💙